Acho
engraçado como as pessoas olham para mim, e comentam sobre mim.
É
sempre uma visão levemente distorcida da que eu tenha de mim mesma.
O que
eu mais ouvi nos últimos meses é sobre como tenho emagrecido, como estou diferente,
quase irreconhecível. Mais magra do que fulano, tão magra quanto ciclano. E,
mesmo que esses comentários não sejam feitos com tom de ofensa, tenho ficado
cada vez mais aborrecida quando escuto.
O que
querem que eu responda?
Muito
obrigada por me fazerem achar que eu era horrível antes.
Por
que isso é tão necessário de comentar?
Meu
corpo não era agradável para você? Não era bom sair comigo? Eu não era o
suficiente para você?
Comecei
a emagrecer na medida que comecei a tratar depressão, porque tratando depressão
comecei a tratar compulsão alimentar. E o curioso é que acho que só duas
pessoas, nesse um ano que faço tratamento, tiveram a lembrança de perguntar se eu
melhorei (uma foi meu pai).
Mas,
veja bem, o importante é que eu emagreci e agora me sinto gostosa vestindo
calça jeans. Calça jeans com cropped ainda não.
Eu não
quero que você compare meu corpo.
Meu
peito e minha bunda, meu quadril e minha cintura, minha altura e minha largura
são meus. E pode parecer surpreendente, só que nunca me achei feia. Nunca
estive 100% tranquila comigo mesma também, mas não preciso de outras pessoas me
comparando e me cobrando para ser algo que jamais vou ser.
Posso
fazer 24 horas de jejum e 2 horas de treino todos os dias. Primeiro eu vou
desmaiar. Segundo minhas coxas continuarão grossas; meu quadril continuará
largo, assim como meus ombros; meu peito continuará ok (ainda me
incomodando). Nada disso vai mudar.
E eu
já sonhei que mudasse. Já quis que fosse de várias formas diferentes. Mas
algumas coisas vão continuar do jeito que são.
Também
falam que sou muito alegre, sorridente e, definitivamente, uma parte de mim é,
principalmente o lado professora. Só que, o que eu percebi durante esses meses
de pandemia em casa, é que se tivesse uma câmera me filmando 24 horas por dia,
com certeza constatariam que sou doida (viro outra pessoa assim que encerro a aula).
Às
vezes acho que ser professora, na verdade, é uma personagem que interpreto.
Alguns dias não me saio muito bem no papel e fico me sentindo muito mal, mas, na maioria das vezes, sei
atuar com maestria, porque eu preciso, pelos meus alunos. E acho que todo
professor é um pouco assim.
Com a
terapia aprendi a tentar não fingir tanto que estou bem o tempo todo. Agora, o
próximo passo é conseguir explicar quando não estou bem. Ainda tenho dificuldades em verbalizar tudo que passa
pela minha cabeça.
Sempre
acho que os outros não se importam, ou que estou falando muito e atrapalhando,
ou que não vale a pena compartilhar sobre mim se a pessoa talvez nem continue
na minha vida.
Inclusive,
sobre a minha cabeça, se precisasse ranquear meus top inimigos, minha mente
estaria no top 3 ou 5. Meus pensamentos são tão altos aqui dentro que quase
sempre tenho a impressão de que as pessoas conseguem ouvir o que eu estou
pensando. Já foi pior, mas alguns dias ainda é quase insuportável.
O
que eu posso fazer? O que eu não posso fazer? Eu fiz certo? Fiz errado? Fiz o
suficiente? Falei alguma coisa que não deveria? O que eu faço agora? Eu vou
conseguir? Não acho que vou conseguir lidar com isso, será que vou? O que isso
quer dizer? Será que é amanhã que não vai ter mais mensagem? Mas eu não fiz
errado, fiz? Será que tem alguma coisa acontecendo mesmo ou é coisa da minha
cabeça? Será que pergunto? Eu deveria falar algo? O que eu deveria responder para
isso? Será que eu estou exagerando? Eu posso fazer isso? Perdeu o interesse,
não foi? Com certeza tem alguém melhor, não é? Melhor que eu, não é? Eu estou ficando doida? Pra que
continuar com isso? Insistindo? Isso está realmente acontecendo comigo? Mas e o
futuro? Quando vai dar certo? E o presente? É melhor desistir, não é?
Passei
várias sessões na terapia tentando melhorar meu relacionamento com o fato de as
pessoas irem embora da minha vida. Até que na última sessão minha psicóloga disse que é normal eu sentir medo das pessoas irem embora, e que vou continuar
sentindo.
E como
eu deveria não sentir?
Por
muito tempo fiquei agoniada querendo alguém, uma companhia. Até que entendi que
eu tinha pavor de me aproximar das pessoas. Era uma luta interna dentro de mim
entre um lado querendo muito criar conexões com alguém, e outro que se fechava
completamente por medo.
E todas
as vezes que eu tentei me aproximar de alguém, foram embora.
Foram
embora quando eu tinha 13 ou 14 anos e não entendia quase nada da vida.
Quando
tinha 20, saí com um cara por 3 meses sem saber que ele estava em um
relacionamento aberto.
Dos
meus 21 aos 23 saí com vários caras que sempre iam embora todas as vezes que eu
mostrava algum lado que não fosse a superengraçada e compreensiva Carol.
Nos
meus 23 fiquei 4 meses saindo com um menino que, um dia, resolveu não me
responder mais. E até hoje não sei o motivo.
Nos
meus 24 tive a infelicidade de conhecer um que, em 4 horas passou de fazer
planos comigo para 2022 a falar que estava “tudo terminado” porque eu o fazia
se sentir preso. Essa história não vale a pena contar, porque foi uma das
coisas mais absurdas que já tive que viver.
Então
como eu deveria não ter medo?
Não
consigo pensar em futuro, porque todos os dias penso que não terá amanhã. Todas
as conversas parecem ter uma data de validade que só eu não sei ao certo qual é.
Então fico criando micro mecanismos de proteção, porque se ou quando
acabar vou estar levemente preparada (nunca estou de fato).
Assim,
não consigo me abrir, nem falar de mim, porque todas as vezes que fiz isso, as
pessoas não ficaram. Não consigo me aprofundar em conversas ou tenho receio de ser
direta no que quero, porque, todas as vezes que fiz isso, as pessoas não
ficaram.
Repetidamente
continuaram anulando o que eu estava sentindo, ou falando, ou querendo ser, ou
querendo sentir. E continuaram fazendo eu me sentir culpada simplesmente por
ser quem eu sou, ou pelo que eu queria.
Já disseram, também, que sou emocionada, exagerada, e que romantizo tudo.
Tem
que ficar atenta aos sinais, para não ser idiota.
Das
algumas vezes que já saí com alguns caras consegui testar algumas coisas.
Já
deixei claro no primeiro encontro que queria algo sério. Já deixei claro que
não queria nada sério. Já fiz questão de alinhar se estávamos na mesma página
sobre o que estava acontecendo no primeiro mês. Já fiz isso no terceiro. Já
comecei a chamar de apelido fofo na primeira semana. Já comecei a chamar depois
de um mês. Já sai com gente de Franca, São Paulo, e de alguma cidade do
interior de Minas. Já tentei sair com caras mais velhos achando que o problema
era maturidade (não era), e já saí com mais novos (erro). Já fiquei 6 horas em
chamada no primeiro dia de conversa. Já fiquei horas e horas em chamada por
vários dias seguidos. Já falei com todas as letras quais eram as minhas
intenções; nada adiantou.
No
final eu sempre saia (ou saio?) com a sensação de que só tinha sido usada.
Usaram
meu tempo, usaram meu corpo, usaram das minhas melhores partes.
E,
então, como não vou ter medo de, toda vez que conheço alguém, achar que
só querem me usar, mais uma vez?
Não
escolhi isso, só deixaram pra eu lidar.
Fico
buscando respostas para as dezenas de questionamentos que passam pela minha
cabeça o tempo todo, e quando acho fico incomodada.
Porque
parece que tudo precisa seguir um manual que se você não segue, está errado.
Não pode demonstrar, não pode ser disponível, não pode falar o que sente, não
pode fazer isso, não pode fazer aquilo. Tem que seguir os prazos. Vai dar tudo errado.
Tem um
manual de como ser uma boa professora. Tem outro de como ser filha. E um de
como ser uma boa amiga. Para tudo tem um manual.
E no
final parece que querem te moldar para cada tipo de situação. E o que te resta
é aceitar.
Só que eu odeio o fato de não poder falar e fazer o que eu quero, e o que eu sinto, porque talvez seja proibido. E odeio ainda mais o fato de que me proíbo, porque no fundo fico com a certeza de que, se fizer, sempre vou acabar estragando tudo.
E por que eu estragaria tudo? Difícil de enxergar às vezes, mas tem muita mais coisa boa do que ruim aqui dentro.
Mas será
que isso tudo é real? Ou será que é só mais um dia da minha cabeça sendo completamente
corrompida pela ansiedade?
Isso faz
algum sentido?
...
Eu
estou exagerando?